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Notícia
'Europa está em declínio e pode se tornar irrelevante'
A Europa está em declínio e em poucos anos pode perder a posição hegemônica no mundo que foi construída ao longo de séculos.
01/01/1970 00:00:00
A Europa está em declínio e em poucos anos pode perder a posição hegemônica no mundo que foi construída ao longo de séculos.
A preocupação acima não é uma análise de acadêmicos ou de políticos adversários do Ocidente. Ela parte da própria Comissão Europeia — o braço executivo que administra a União Europeia.
Em 2023, a Comissão fez um pedido especial a Mario Draghi — o homem que comandou o Banco Central europeu por quase toda a década passada e serviu como primeiro-ministro da Itália entre 2021 e 2022.
Draghi passou um ano escrevendo um relatório especial com recomendações de como manter a Europa relevante e competitiva em um mundo cada vez mais turbulento.
O diagnóstico do aguardado "Relatório Draghi", de mais de 400 páginas, foi revelado em setembro de 2024: a Europa precisa de um projeto de investimentos mais ambicioso do que foi o histórico Plano Marshall que reergueu o continente no final da Segunda Guerra Mundial.
Ele calcula que são necessários investimentos da ordem de 800 bilhões de euros por ano para que o continente consiga manter sua economia dinâmica, e compatível com suas metas de sustentabilidade.
A ação é necessária, segundo Draghi, por causa de "desafios existenciais" que o continente enfrenta.
"[A escolha que temos] é 'vamos agir' ou encaramos a lenta agonia do declínio", disse Draghi ao apresentar sua reforma.
Desde que o relatório foi apresentado, há quatro meses, ele vem provocando polêmica entre políticos e líderes europeus sobre qual seria o melhor rumo.
A BBC News Brasil conversou com especialistas em Europa sobre os desafios que o continente e seus líderes enfrentam para manter os altos padrões de vida e a posição de hegemonia dos países em um mundo que é marcado por uma ascensão rápida da China e um dinamismo econômico contínuo dos Estados Unidos — além da oposição feroz da Rússia.
Os especialistas dizem que uma das questões centrais nesse debate são os rumos políticos da Alemanha. A Alemanha é a maior economia do bloco europeu, mas vem tendo dificuldades para se recuperar da crise provocada nos anos da pandemia.
Além disso, a Alemanha sempre teve papel decisivo nos rumos da Europa. No passado, o país liderou o continente diante de crises na Grécia, Portugal e Irlanda com um agenda de austeridade econômica. Agora, o continente volta a debater quais políticas econômicas devem ser adotadas para evitar o seu declínio.
E tudo em um momento em que a Alemanha enfrenta uma crise política que derrubou a coalizão do governo do chanceler Olaf Scholz e desencadeou novas eleições no país, marcadas para o próximo mês.
'Lenta agonia'
A "lenta agonia do declínio" da economia europeia, da qual fala Mario Draghi, é um fenômeno de décadas.
Em 2000, os 20 países que compõe a zona do euro (nações que integram a União Europeia e usam o euro como moeda) representavam quase 20% da economia mundial — e a China; menos de 4%.
Em 2023, a participação da China na economia mundial saltou para 17%; e a dos países da zona do euro encolheu para menos de 15%.
Ao longo deste século, a economia da zona do euro cresceu em média 1,27% ao ano — abaixo do ritmo de crescimento econômico do mundo todo, que no período foi de 2,97%.
E a Europa viu outros países e regiões crescerem em um ritmo mais acelerado: 2,17% nos EUA, 8,24% na China e 2,29% no Brasil.
A pandemia acentuou mais ainda a falta de dinamismo da economia europeia.
Em 2023, a economia mundial já havia crescido 10% em relação a níveis pré-pandemia (fim de 2019, o último ano antes da crise do coronavírus). Ou seja, em quatro anos, a economia do planeta se recuperou da profunda queda registrada no auge da crise e já está 10% maior do que antes da pandemia.
As duas grandes potências — China e EUA — viram suas economias crescerem 9% e 20% entre o fim de 2019 e o fim de 2023. Para termos de comparação, a economia brasileira já está 7% maior do que antes da pandemia.
Já entre os países da zona do euro, esse índice é de 3%.
A recuperação pós-pandemia da Europa tem sido mais lenta e difícil do que no resto do mundo.
A Alemanha vem alternando trimestres de crescimento negativo da sua economia desde 2023; Já o Reino Unido (um país europeu mas que não faz parte nem da União Europeia e nem da zona do euro) chegou a entrar em recessão após o fim da pandemia.
Um novo Plano Marshall
O temor na Europa é que toda a prosperidade conquistada ao longo de séculos está ameaçada se o dinamismo econômico não for recuperado.
"Eu me lembro de 30 anos atrás, que a Europa era considerada o futuro para os jovens. Havia o programa, Erasmus, para jovens descobrirem outras pessoas, culturas e países. Nesse tempo, os jovens ainda viviam um entusiasmo com a Europa, após a queda da União Soviética", disse em entrevista à BBC News Brasil Emmanuel Sales, diretor do centro de pesquisas Fondation Robert Schuman, dedicado a estudar a União Europeia.
"Mas acho que hoje, a Europa, é sinônimo de regulamentação, altas taxas de juros, restrições e baixo crescimento. E isso é um problema. Os jovens estão decepcionados."
A sua preocupação é compartilhada por outros.
Em recente entrevista à BBC, o embaixador e ex-diretor dos serviços de inteligência da Espanha, Jorge Dezcallar de Mazarredo, sugeriu que se não houver reformas, em 2050, não vai haver nenhuma economia europeia entre as dez mais importantes do mundo.
"Temos o melhor sistema de saúde, a melhor educação, as melhores estradas, mas isso custa muito caro. Até quando podemos sustentar isso?", disse Mazarredo.
"A Europa está em decadência, e com a perda de sua influência também desaparecerá o altíssimo padrão de vida."
O relatório de Draghi, encomendado justamente para lidar com essas preocupações, identifica três desafios que precisam ser enfrentados. Segundo o documento, é preciso:
1) tirar o atraso em inovação tecnológica que existe em relação à EUA e China
2) aproveitar oportunidades do processo global de descarbonização em andamento;
3) proteger as cadeias de suprimentos de dependências geopolíticas, que correm o risco de se transformar em vulnerabilidades.
A chave para isso, segundo Draghi, é fazer o oposto do que vem sendo feito pela Europa até agora. O relatório advoga que é preciso trocar as políticas de austeridade — que visam controlar o endividamento com rigor fiscal e monetário, e assim promover um crescimento sustentado de baixa inflação — por políticas ousadas de investimento.
As escalas de investimento defendidas pelo relatório são inéditas para o bloco europeu.
Draghi acredita que a União Europeia precisa de investimentos públicos e privados da ordem de até 800 bilhões por ano (R$ 5 trilhões). Mais da metade desse valor seria apenas para transação energética.
Os 800 bilhões de euros por ano em investimentos representariam cerca de 5% do Produto Interno Bruto da União Europeia. Durante o Plano Marshall, de reconstrução da Europa entre 1948 e 1951 após a Segunda Guerra Mundial, foram gastos de 1% a 2% do PIB europeu.
E, ao contrário do Plano Marshall, que foi bancado pelos Estados Unidos, esse dinheiro todo teria de partir dos próprios governos e empresas europeias.
A crise alemã
Nem todos concordam com esse diagnóstico. Principalmente na Alemanha, país que historicamente é um líder dentro do bloco, ao lado da França.
No mesmo dia em que Draghi divulgou seu relatório — e em que estão de poucas horas —, o então ministro da Economia da Alemanha, Christian Lindner, se manifestou contra os caminhos esboçados ali.
"A Alemanha não vai aceitar esse plano", disse Lindner ao site Politico.
"Nosso problema não é a falta de subsídios, e sim a burocracia paralisante e [a adoção de] uma economia planejada. Mais dívida do governo custa juros, mas não gera necessariamente mais crescimento."
A opinião da Alemanha é central nos rumos futuros do continente.
E essa opinião está sendo debatida pela sociedade agora nos primeiros meses do ano, quando a Alemanha passa por eleições. As eleições foram convocadas depois que a coalizão de governo desmoronou, quando o chanceler Olaf Scholz demitiu justamente o ministro Lindner, que é de um partido diferente.
A questão que gerou a crise política alemã é semelhante ao dilema imposto pelo relatório Draghi para a Europa: é preciso investir mais dinheiro para gerar crescimento? Ou deve-se seguir políticas de responsabilidade fiscal para um crescimento com baixa inflação?
A Alemanha enfrenta fortes pressões econômicas.
A invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em 2022 fez dispararem os preços da energia e também os gastos com defesa — além do custo de receber 1,5 milhão de refugiados ucranianos.
A Alemanha tem mecanismos que impedem o governo de se endividar demais. Scholz queria afrouxar esses limites da dívida para permitir mais gastos. Já Lindner propunha um caminho contrário: promover cortes nos orçamentos sociais e de bem-estar e adiar metas ambientais.
Atualmente os indícios são de que passadas as eleições a Alemanha vai continuar se opondo à ideia de ampliar gastos na Europa.
Friedrich Merz, o candidato do partido conservador CDU — que é tido como favorito para se tornar o próximo chanceler alemão — já manifestou que fará "todo o possível" para evitar o aumento da dívida da União Europeia, como propõe o relatório Draghi.
Diferença de culturas
Para Emmanuel Sales, da Fondation Robert Schuman, a diferença de visões de mundo sempre foi um desafio para a União Europeia desde a sua concepção.
De um lado está a Alemanha, com suas políticas de mercado mais ortodoxas. Do outro, os demais países da aliança, que têm uma tradição mais "keynesiana", de crescimento induzido por investimentos.
"Ter uma moeda comum, como o euro, eu acho que foi uma boa ideia. O problema é que a cultura monetária. Você não consegue vincular diferentes economias sem criar um espírito comum", diz Sales. "A cultura monetária do Bundesbank é muito diferente da cultura do Banque de France ou do Banca d'Italia."
Esse choque de visões muitas vezes inviabilizou que os países achassem uma saída comum para os problemas econômicos — algo que fica mais evidente diante dos desafios que o mundo apresenta agora à Europa: a concorrência chinesa e a chegada de Donald Trump ao poder nos EUA.
"Esse é um problema da Europa: você não tem uma estratégia de crescimento. E hoje estamos muito expostos à China e política tarifária de Trump."
Para Richard Youngs — que é professor da universidade britânica de Warwick e pesquisador da Carnegie Europe, entidade sediada em Bruxelas — a ideia de declínio europeu não é nova, e segue urgente no mundo de hoje.
No entanto, para ele, o declínio europeu é de certa forma normal e esperado — e até mesmo uma consequência do projeto europeu no mundo.
"A União Europeia e especialistas têm falado sobre seu próprio declínio por muitos, muitos anos. Mas eu não exageraria o quão profundo e abrangente é o declínio", diz Youngs.
"A Europa ainda é muito relevante. Ela tem muitos atributos de sucesso que outras regiões do mundo não têm. E na realidade, parte do declínio é relativamente benigno. Isso simplesmente reflete o fato de que outras regiões estão indo muito bem e crescendo."
"Elas estão assumindo uma parcela maior do PIB mundial, do investimento, do desenvolvimento e do poder político também. Isso, de certa forma, é o que a UE sempre aspirou alcançar por meio de sua política externa para ajudar outras regiões a se desenvolverem e se tornarem partes interessadas em assuntos globais."
"O crescimento, o desempenho relativamente forte de outras partes da economia global é, de muitas maneiras, uma boa notícia para a economia europeia."
Uma das evidências de que o declínio da Europa não se consolidou nas últimas décadas é que os padrões de vida do continente seguem altíssimos em comparação com o resto do mundo.
O continente segue sendo um dos destinos preferidos de imigrantes, principalmente da África e da Ásia.
A renda per capita de europeus em países do euro é de US$ 37,4 mil por ano (o equivalente a cerca de R$ 19 mil por mês). No Reino Unido, a renda per capita anual chega a US$ 47 mil.
Esse patamar está abaixo de países como Estados Unidos (US$ 65 mil) mas mais do que o triplo de China (US$ 12,1 mil), Rússia (US$ 10,4), Índia (US$ 2,2 mil) ou Brasil (US$ 9 mil por ano).
Youngs escreveu um livro em 2010 chamado Europe's Decline and Fall: The Struggle Against Global Irrelevance ("Declínio e Queda da Europa: A Luta Contra a Irrelevância Global", em tradução livre).
Para ele, a prova de o declínio da Europa é relativo é o fato de que a União Europeia segue existindo e com bastante relevância, mesmo após anos de crises no continente. O bloco sobreviveu à crise financeira de 2008, à crise econômica dos países do sul da Europa, à saída do Reino Unido (Brexit) à pandemia de covid e à guerra entre Rússia e Ucrânia.
"O ano de 2024 foi um ano muito importante para a Europa. Houve relatórios [como o relatório Draghi] realmente importantes de líderes europeus muito proeminentes pedindo à UE para gastar muito mais, investir muito mais na modernização de sua economia, melhorar a produtividade, alcançar as taxas de crescimento mais rápidas que vimos em outras regiões do mundo", diz Youngs.
"Então a União Europeia está começando a levar isso a sério e reconhecer que está ficando para trás de outras regiões do mundo. E a UE precisa fazer isso priorizando seus próprios interesses econômicos imediatos, talvez em maior extensão do que fez no passado."
No entanto, ele prevê que os rumos futuros da União Europeia são mais difíceis hoje — por conta dos desafios vindos da China, Rússia e EUA.
"Ela precisa, esse é o desafio realmente difícil, responder a uma situação em que outras potências ao redor do mundo não estão sendo particularmente abertas com suas políticas econômicas."
"Então a UE precisa responder, ser um pouco mais assertiva na defesa de seus interesses, mas sem perder os benefícios que a UE precisa alcançar por meio de sua integração nos mercados globais."
"A UE não tem o mesmo luxo que os Estados Unidos ou a China de poder se isolar na mesma medida dos mercados globais. A UE não pode fazer isso.
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